quinta-feira, 8 de novembro de 2018

SINTO DORES


Sinto dores,
São dores que me chegam como ecos reverberando em minha pele, em minhas entrâncias, em meus pensamentos, em meu coração...

Sinto dores,
Que minhas não são, mas ao mesmo tempo, são.

Sinto dores,
Que vem dos que viveram as dores do ultraje, da violação dos corpos, da humilhação, do rechaço, da dominação... que também minhas dores são.

Sinto dores,
Que vem da injustiça, do esquecimento, do desconhecimento, do ser renegado, ao silêncio, aos porões da história, ao nada... que também minhas dores são.

Sinto dores,
Que vem dos torturados, dos amordaçados, espancados, mutilados, fisicamente e mentalmente... que também minhas dores são.

Sinto dores,
Que vem dos que perderam filhos, filhas, irmãos, irmãs, pais, mães, amigos, amigas, maridos, esposas, companheiros, companheiras e a si mesmo... que também minhas dores são.

Sinto dores,
Que vem pelos corpos não encontrados, pelos corpos não velados, pelos corpos não sepultados junto aos seus... que também minhas dores são.

Sinto dores,
Que vem do descaso, pelo fracasso de tantos que não conseguiram mais falar, gritar, cantar, amar, gozar, andar, nadar, voar... que também minhas dores são.

Sinto dores,
Pelos que insistem em aniquilar a nossa memória, tentando apagar as páginas dos livros de nossa história.


Claudia Conte
Leopoldina, 08/11/2018